segunda-feira, 20 de julho de 2015

Artigo Prof. Paulo Gomes - Zero Hora Caderno PrOA


Um século de arte


Pintor italiano radicado no Brasil, cujo centenário se completa este ano, aliou a excelência acadêmica, que o celebrizou, à capacidade de invenção

 

Por: Paulo Gomes *


18/07/2015 -  Zero HoraCaderno PrOA
 

A Fundação do Rio Grande, pintado por Aldo Locatelli 
 Foto: Omar Freitas / Agencia RBS


*Artista plástico, professor e pesquisador junto ao Instituto de Artes da UFRGS

“O prazer do espírito vem a par da deleitação do olhar”  P. Rosenberg & R. Temperini

Para falarmos sobre Aldo Locatelli (1915 – 1962) e seu legado para o Rio Grande do Sul devemos considerar que sua situação, no panorama da arte local, é complexa: visto ora como artista acadêmico (mesmo que essa afirmativa seja pouco esclarecedora do que isso realmente significa), ora como um artista oficial (que ele certamente foi), a admiração irrestrita que o público sempre lhe dedicou vem junto com a desconfiança da crítica e justaposta à louvação dos ideólogos de uma identidade “gaúcha”. Aldo Locatelli chegou ao Brasil em 1948, momento de renovação após o longo período do Estado Novo de Getúlio Vargas. No plano cultural, os efeitos desse processo tornaram-se evidentes com a criação do Museu de Arte de São Paulo (Masp), em 1947, do Museu de Arte Moderna de São Paulo (MAM), em 1948, e do MAM do Rio de Janeiro, no mesmo ano. No Rio Grande do Sul, o governo Walter Jobim (1947 – 1951) proclama a industrialização como sua principal meta, juntamente com a contenção do êxodo rural. O ano de 1948, especialmente marcado pela fundação do movimento tradicionalista, assiste também ao ressurgimento da literatura fundadora de Simões Lopes Neto, com a reedição de Contos Gauchescos e Lendas do Sul; vê o lançamento do primeiro volume de O Tempo e o Vento, a trilogia mítico-histórica de Erico Verissimo; e ainda é o ano da exposição dos Novos de Bagé, grupo que dará origem ao Clube de Gravura. A modernização do Estado se dará também nas iniciativas institucionais na área da cultura e na afirmação do ensino superior, com a criação da Universidade do Rio Grande do Sul, em 1947. Essas evidências de progresso e desenvolvimento exigiam a invenção de uma nova imagem para o Estado. É nesse contexto que Locatelli, interrompendo suas atividades na Itália, atende o convite do Bispo de Pelotas e parte para o Brasil.
 
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Sua atuação como artista e professor se dá, de modo intenso, entre 1948 e 1962 (ano de sua morte precoce). Nesse curto espaço temporal, além de atuar como professor na Escola de Belas Artes (Pelotas) e no Instituto de Artes (Porto Alegre), ele pintou centenas de metros quadrados de telas e murais: imagens religiosas na catedral de São Francisco de Paula (Pelotas), na catedral de Nossa Senhora da Conceição (Santa Maria), na igreja de São Pelegrino (Caxias do Sul), na igreja de Santa Teresinha do Menino Jesus (Porto Alegre); pintou painéis de caráter histórico-alegórico, como A Fundação do Rio Grande (Fiergs), As Profissões e As Artes (ambos para a então URGS), A Conquista do Espaço (Aeroporto Salgado Filho) e, não menos importante, pintou também, no Palácio Piratini, a lenda na Saga do Negrinho do Pastoreio. Sua atividade febril, aqui sumariamente exposta, a serviço das encomendas oficiais (Igreja, Estado e Universidade) plasmou a autoimagem que o Estado necessitava naquele momento: pinturas grandiosas, de tom elevado, de cuidadosa fatura, de elevada qualidade pictórica. Evidentemente que, sendo encomendas, seria impossível aspirar por manifestações modernistas extremadas, pois não era isso o que se esperava. Ao contrário, sua arte deveria ser equilibrada, expressiva e capaz de elevar o pensamento.

 

  

 

 

 

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