A Pinacoteca
Aldo Locatelli abriu no dia 26 de junho de 2018 três exposições contemplando diferentes
facetas da arte contemporânea. As mostras seguem o princípio de expor o acervo
próprio e, ao mesmo tempo, oportunizar ao público a apreciação de artistas
selecionados por projetos curatoriais inovadores.
A mostra Uma Lâmpada no Porão: a fotografia
como meio de expansão tem curadoria do
alemão Klaus W. Eisenlohr e do
porto-alegrense Eduardo Vieira da Cunha, segundo os quais:
“Desde cedo a
fotografia vem desempenhando um papel de liderança no que se refere aos meios
estendidos de produção artística. Para muitos artistas, foi o meio que permitiu
expandir seu pensamento em relação às artes plásticas clássicas. Além disso,
através da mudança para o meio digital, a fotografia, que mais recentemente se
tornou ‘fotografia de arte’, novamente foi desafiada, e hoje se encontra imersa
nas mídias sociais.
Procuramos
obras em fotografia, ou trabalhamos com fotografias que desafiam o termo ‘fotografia
de arte’. A presente exposição tem como lugar o porão do Paço dos Açorianos,
com seu ambiente intimista e uma escuridão de adega, carrega a sombra de seu
passado. Por conta disto, as obras precisam trabalhar com a sua própria luz e
conter luz própria.
Primeira letra do alfabeto hebraico, O Aleph é um conto que dá nome a um
livro de Jorge Luiz Borges dos anos 1940. O conceito da exposição
associa-se à ficção de Borges, e ao fenômeno luminoso do transporte da imagem
de um lugar a outro, que requer este ambiente de
obscuridade, assim como as conseqüências imaginárias desta antiga experiência
física da luz. No conto autobiográfico, Borges deita-se no escuro do porão, onde
experimenta uma espécie de transe. Ele descreve o Aleph como uma pequena esfera
de vidro onde os fragmentos de todo o espaço estariam presentes. Dele, seriam
projetadas e unidas todas as imagens. Se todos os lugares estão no Aleph, ali,
no porão, estariam todas as luzes. Assim, da escuridão surgiria a possibilidade
da iluminação.”
participantes
CHICO MACHADO - LEO
CAOBELLI - NATALIA SCHUL
FLAVYA MUTRAN - LIZÂNGELA
TORRES -
TUANE EGGERS
ÍO - MANOELA
FURTADO - WALTER KARWATZKI
obra da artista Natalia Schul |
Lugares Seguros
Aqui são apresentados os resultados de um workshop voltado para
fotógrafos e performers e a residência artística de Klaus W. Eisenlohr no estúdio Planta Baja e no Porão do Paço dos
Açorianos. O objetivo do cineasta e artista visual alemão foi explorar espaços
de Porto Alegre com acesso restrito:
“Os espaços públicos nas cidades ficaram mais e mais precários. Seja
pela ameaça vivida numa experiência pessoal, ou apenas por uma questão de
insegurança, mais e mais pessoas se retiram para lugares de acesso restrito,
que estão sob vigilância pesada, são privados e estão cercados. Em última análise, alguns desses lugares são
eliminados de todas as funções originais e servem apenas como espaço
representacional para empresas ou instituições.
No workshop, foram buscadas práticas comuns ou incomuns com o objetivo
de criar fotografias. Foi uma espécie de auto-empoderamento para os participantes.
Encontrar espaços e criar estratégias convincentes para obter permissões de
acesso foram gestos de capacitação pessoal. Abrir portas ultrapassando limites
não só criou significados simbólicos (fotografias), mas experiências reais.”
participantes
ALEXANDRE DE NADAL - DANI
AMORIM - GUILHERME MEDEIROS
NICOLAS LOBATO - RAFAEL
GAMBA
convidados
FABIANO ÁVILA - DANIELA
MENDES CIDADE
ANOS 90: RUPTURAS / CONTINUIDADES
Elton Manganelli. Baldios (Anunciação El Greco)”, 1993, acrílica sobre tela. Pinacoteca Aldo Locatelli. |
Concebida como prolongamento da mostra “Despertar das Formas”, cuja
intenção era investigar o modernismo nas artes plásticas em Porto Alegre, e que
está em cartaz desde março no Paço dos Açorianos, a exposição Anos 90: Rupturas/Continuidades traz quatro
pinturas em grandes dimensões e um livro de artista, todas estas obras pertencentes
à Pinacoteca Aldo Locatelli. Conforme o texto de apresentação:
“No arco temporal que se estende dos inícios do século XX até a década
de 1990 ocorrem significativas rupturas no campo das artes visuais. Técnicas e
suportes tradicionais passam a conviver e em alguns casos são alterados após a
incorporação da fotografia, do vídeo e da informática nas experiências
realizadas. A proliferação das instalações, performances e também da crítica à
mercantilização do objeto artístico, redirecionam o foco para novas relações
entre artista e público. Porém, concomitante a estes desdobramentos extremos do
modernismo, sobrevém, em vários países ocidentais a partir de meados dos anos
80 um retorno à pintura.
Tal fenômeno também pôde ser verificado em Porto Alegre, com muita
força ao longo da década de 1990, apresentando nuances a serem apontadas. Em
primeiro lugar, a predominância de quadros com grandes dimensões e por vezes,
apresentando o retorno do políptico – obra com diferentes partes articuladas
entre si. Em segundo lugar, o arrefecimento da disputa entre adeptos da
figuração da realidade versus militantes do abstracionismo, cujas antagônicas posições
marcaram o cenário das artes plásticas no Brasil, em especial a partir das
primeiras edições da Bienal de São Paulo.
Em contraponto a tais mudanças, algumas continuidades são verificadas,
tais como a retomada de uma iconografia de origem popular e o uso consciente de
recursos da pintura naif por diversos artistas, mesmo os portadores de formação
acadêmica. Mas, para além destas heranças modernistas, em diversos trabalhos
surgem referências, seja por meio dos procedimentos da citação ou da releitura,
aos temas anteriormente consagrados pela história da arte e a retomada de
técnicas artísticas tradicionais.
Tais continuidades persistem na década de 1990, porém alteradas ou
processadas durante o processo criativo de cada artista. Por exemplo, folhas de
ouro – tradicionalmente utilizadas em objetos religiosos, elementos decorativos
ou mobiliário – são aplicadas num livro configurado em suporte para
intervenções de efeito pictórico. Assim, a expressão pessoal, outro cânone
modernista, encontra terreno fértil no Brasil no período pós-regime militar,
quando a democracia representativa é finalmente consolidada pela Constituição
de 1988, garantidora formal da liberdade criativa. Por fim, cabe salientar
neste momento a ocorrência de um novo fenômeno social, ainda a ser devidamente
apurado: a irrupção de um público para a arte contemporânea, até então
praticamente inexistente na Cidade.”
artistas
participantes
ALFREDO NICOLAIEWSKY - ELTON MANGANELLI
KARIN LAMBRECHT - TERESA POESTER
Teresa Poester. “Maresia”, 1994, acrílica sobre tela. Pinacoteca Aldo Locatelli. |
Karin Lambrecht. Sem título, 1997, livro, folha de ouro, grafite e cera. Pinacoteca Aldo Locatelli. |
Alfredo Nicolaiewsky. “A luta”, 1992, acrílica sobre papel. Pinacoteca Aldo Locatelli. |
Alfredo Nicolaiewsky. “A ilha”, 1992, acrílica sobre papel. Pinacoteca Aldo Locatelli. |
Pinacoteca Aldo Locatelli / Paço dos Açorianos
Praça Montevidéu, 10, Centro Histórico – Porto Alegre
visitação: até 20 jul 2018 /
seg a sex, das 9h às 12h e das 13h30 às 18h
Entrada Gratuita